quinta-feira, 18 de julho de 2013

Princípios do Aconselhamento a Pessoas Enlutadas




Muitas vezes é preciso verbalizar, dizer frases concretas, do tipo ”Permita-se sofrer: Seu parente morreu. É permitido chorar”, “Chorar não vai fazer seu parente ficar triste nem atrapalhar o caminho dele”, “Expresse a sua dor abertamente”, “Quando você compartilha seu sofrimento fora de si mesmo, a cura ocorre. Ignorar a sua dor não irá fazê-la ir embora e falar sobre isso pode fazer você se sentir melhor”, “Permita-se falar de seu coração, e não apenas de sua cabeça. Isso não significa que você está perdendo o controle ou vai ficar “louca” e sim uma fase normal do processo de luto”, “Fale com seus outros filhos sobre a morte do irmão e, se tiver vontade, chore com eles”.

Com a morte de um parente, as esperanças, sonhos e planos para o futuro são desmontados, virados de cabeça para baixo,  começando uma jornada que é muitas vezes assustadora, dolorosa e avassaladora. Na verdade, às vezes os sentimentos de dor pela morte de um ente querido vem de forma tão intensa que a pessoa não entende bem o que está acontecendo. Faz parte do tipo de ajuda que podemos oferecer que sejam oferecidas sugestões práticas para o dia-a-dia após a morte, ajudando o movimento em direção ao bem estar, respeitando sua experiência única de sofrimento, validando, descobrindo e reconhecendo a maneira particular daquela pessoa viver seu luto com a máxima coerência íntima.

Procura-se enfatizar que o sofrimento é único e que ninguém, incluindo os outros filhos e parentes, sofrerá exatamente da mesma maneira. Cada um tem seu ritmo, reage de forma diferente e não existe certo e errado.

Sabe-se que a jornada do luto será influenciada não só pela relação que a pessoa tinha com o parente que morreu, mas também pelas circunstâncias da morte, o sistema de apoio emocional (rede de apoio), sua cultura e espiritualidade. Tudo isso é abordado durante as reuniões, assim como a sensação de estar em um estado de sonho, como se fosse acordar e nada disto será verdadeiro. Estes sentimentos de entorpecimento e negação são necessários, principalmente no inicio, para isolar a pessoa da realidade da morte até que esteja mais capaz de tolerar o que ela não quer acreditar. A morte de uma pessoa amada pode resultar em uma variedade de emoções. Confusão, desorganização, medo, culpa, raiva e alívio são apenas algumas das emoções que as pessoas podem sentir. Às vezes, estas emoções se sucedem dentro de um curto período de tempo ou podem ocorrer simultaneamente e, por mais estranho que algumas dessas emoções possa parecer, elas são normais e saudáveis. A pessoa se permite aprender com esses sentimentos, deixando de se surpreender se, de repente, experimenta surtos de dor, mesmo em momentos mais inesperados, aprendendo a encará-los como uma resposta natural à morte de seu ente querido e a ser tolerante com seus limites físico e emocional. Seus sentimentos de perda e tristeza provavelmente deixam-na cansada. Sua capacidade de pensar claramente e tomar decisões pode ser prejudicada e o seu nível de energia podem, naturalmente, diminuir e ela não deve esperar que esteja disponível para o seu cônjuge, filhos sobreviventes e amigos, como já foi um dia. Estimula-se que ela ouça o que seu corpo e mente estão dizendo, coma refeições equilibradas e agende suas atividades, tanto quanto possível. Cuidar de si não significa sentir pena de si mesma, significa que ela está usando suas habilidades de sobrevivência.

Uma questão fundamental é alertar a pessoa para as frases prontas e clichês, comentários banais que algumas pessoas fazem na tentativa de diminuir a dor da perda e que podem ser extremamente dolorosos. Comentários do tipo: “Segure firme, você tem que aguentar”, “O tempo cura todas as feridas” “Pense que você tem que ser grato pelo tempo que seu parente passou com você” ou “Você tem que ser forte para os outros” não são construtivas. Embora estas observações possam ser bem intencionadas, pode ser torturante aceitá-las como verdades absolutas.

Outro ponto estimulado é desenvolver um Sistema de Suporte (Rede de Apoio). Pedir aos outros e muitas vezes aceitar o apoio é difícil e em nossos encontros, exploramos o porque, incentivando a pessoa a procurar as pessoas que a permitem ser ela mesma reconhecendo seus sentimentos – felizes e tristes.

Estimula-se  a criação de um legado: As memórias são um dos melhores legados que existem depois da morte de uma pessoa amada. Ao invés de tentar esquecer essas memórias, devemos compartilhá-las com a família e amigos, Lembrando sempre que as memórias podem ser tingidas de felicidade e de tristeza: “Se suas memórias trazem o riso, sorria. Se suas memórias trazem tristeza, então está tudo certo em chorar. Memórias foram feitas de amor – ninguém pode tirá-las de você. A realidade de que seu ente querido morreu, não diminui sua necessidade de ter esses objetos, parte tangível e duradoura da relação com ele.”

O tema Espiritualidade deve ser cuidadosamente explorado: Se a fé é parte da vida dessa pessoa, ela deve expressá-la da maneira que lhe parece apropriada. A revolta, expressa muitas vezes como raiva de Deus, deve ser percebida como uma parte normal do processo de luto. Orienta-se que a pessoa manifeste a sua fé, mas, naquele espaço reservado e seguro, ela pode manifestar também a sua raiva e sua tristeza. Negar a dor só vai torná-la mais confusa e esmagadora.

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Adaptado do site de nossa querida parceira Adriana Thomaz, médica e terapeuta do luto, especialista em Clínica da Dor, com atuação em Luto e Cuidados Paliativos.

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