terça-feira, 16 de julho de 2013

Concepções modernas e alguns mitos do processo do luto (por Alan D. Wolfelt)

Compartilhamos com vocês, queridos, com o abraço demorado de sempre. A palavra de ordem é "educação". Educação nos temas do final da vida, para que possamos ressurgir, como fênix, mais abertos para a claridade e para o amor.
Atenciosamente,
Equipe ASDL-RJ.



Por Alan D. Wolfelt, Ph.D.
Diretor do Centro de Perdas e de Transições na Vida, em Fort Collins, Colorado.
Tradução livre: Rodrigo Luz.

Nossa sociedade continua a perpetuar uma série de mitos sobre a dor e o luto. Estes mitos podem parecer inofensivos, mas eu descobri que eles podem rapidamente tornar-se obstáculos para o trabalho de reconciliação com a vida. Este artigo descreve cinco dos mitos mais comuns sobre a dor emocional que a perda de alguém muito querido provoca. Espero que esta informação possa ajudá-lo a superar esses mitos e entender melhor como ajudar a si mesmo ou aos outros.

MITO 1: DOR E LUTO SÃO A MESMA EXPERIÊNCIA.

A maioria das pessoas tendem a usar as palavras dor e luto alternadamente. No entanto, há uma diferença importante entre elas. Aprendemos que as pessoas se movem em direção a uma espécie de reconciliação não apenas em virtude do luto, mas através do luto. Simplificando, a dor é a reunião dos pensamentos e dos sentimentos internos que experimentamos quando morre alguém que amamos. O luto, por outro lado, envolve a experiência interna de dor e a sua expressão fora de nós. Na realidade, muitas pessoas em nossa cultura sofrem, mas eles não choram. Ao invés de serem encorajadas a expressar sua dor externamente, são muitas vezes recebidas com mensagens como "Continue!", "Mantenha a cabeça erguida" e "Mantenha-se ocupado!"... Então, elas acabam sofrendo dentro de si mesmas em isolamento, em vez de enlutadas para fora de si, na presença de companheiros amorosos.

MITO 2: HÁ UMA PROGRESSÃO PREVISÍVEL E ORDENADA PARA A EXPERIÊNCIA DA DOR.

Como pensar tanto na morte e na dor tem sido atraente para muitas pessoas... De alguma forma, as "fases do luto" têm ajudado as pessoas a produzirem algum sentido em uma experiência que não é tão ordenada e previsível como gostaríamos que fosse. Se fosse assim tão simples! O conceito de "estágios" foi popularizado em 1969, com a publicação do texto marco de Elizabeth Kübler-Ross. Kübler-Ross nunca havia destinado as pessoas a interpretarem literalmente as cinco "fases do morrer". No entanto, muitas pessoas têm feito exatamente isso, não só com o processo de morrer, mas com o processo de luto também. Uma dessas consequências é quando as pessoas em torno da pessoa de luto acreditam que ele ou ela deve estar na "fase 2" ou na "fase 4" até agora. Nada poderia estar mais longe da verdade. A dor de cada pessoa é única e particular. É imprevisível e desordenada. Suas diferentes dimensões também não podem ser tão facilmente categorizadas. 

MITO 3: É MELHOR AFASTAR-SE DA DOR E DO LUTO, EM VEZ DE IR EM DIREÇÃO A ELES.

Muitos enlutados não se dão permissão ou recebem permissão de outros para lamentar. Vivemos em uma sociedade que muitas vezes encoraja as pessoas a saírem prematuramente de seu sofrimento, em vez de em direção a ele. Muitas pessoas vêem a dor como algo a ser superado e que não deve ser experimentado. O resultado é que muitos de nós querem sofrer isoladamente na tentativa de fugir de nossa dor. Pessoas que continuam a expressar sua dor exteriormente a lamentam a perda são muitas vezes vistas como "fracas", "loucas" ou "auto-piedosas". A mensagem comum é "moldar-se e seguir com sua vida". Recusar-se a permitir que as lágrimas corram, sofrer em silêncio, e "ser forte", são considerados comportamentos louváveis e admiráveis. Muitas pessoas enlutadas têm interiorizado a mensagem da sociedade de que o luto deve ser feito em silêncio, de forma rápida e eficiente. Tais mensagens incentivam a repressão dos pensamentos e sentimentos do enlutado. O problema é que, na tentativa de mascarar ou afastar-se totalmente da sua dor, acabam provocando mais ansiedade e confusão interna. Com pouco ou nenhum reconhecimento social da dor normal do luto, as pessoas começam a pensar que os seus pensamentos e sentimentos são anormais. "Eu acho que estou ficando louca", eles dizem-me frequentemente. Elas não são loucas, são apenas pessoas enlutadas. E para se reconciliar, elas devem se mover em direção a sua dor através de luto contínuo, não longe dele através da repressão e da negação.

MITO 4: AS LÁGRIMAS EXPRESSANDO TRISTEZA SÃO APENAS UM SINAL DE FRAQUEZA.

Infelizmente, muitas pessoas associam lágrimas de tristeza com inadequação pessoal e fraqueza. Quando o enlutado chora, muitas vezes, pode gerar sentimentos de impotência em seus amigos, familiares e cuidadores. Decorrente de um desejo de protegê-los da dor, amigos e familiares podem tentar conter as lágrimas. Comentários como: "Lágrimas não vai trazê-lo de volta" e "Ele não gostaria de te ver chorando" podem desencorajar a expressão de lágrimas. No entanto, o choro é a maneira da natureza de liberar a tensão interna no corpo e permite que o enlutado possa comunicar a necessidade de ser consolado. Chorar faz as pessoas se sentirem melhor, emocionalmente e fisicamente. Lágrimas não são um sinal de fraqueza. Na verdade, o choro é uma indicação da vontade da pessoa enlutada para fazer o "trabalho de luto".

MITO 5: O OBJETIVO É "SUPERAR" A SUA DOR. 

Muitos enlutados ouvem as pessoas perguntando: "Você ainda está para baixo?" Nós nunca "superamos" a nossa dor, mas nos reconciliamos com ela. Nós não "resolvemos" ou nos "recuperamos" da nossa dor. Estes termos sugerem um retorno total à "normalidade", e ainda na minha vida pessoal, bem como na minha experiência profissional, tenho percebido e aprendido que nós mudamos para sempre pela experiência do luto. Se o enlutado assumir que a vida vai ser exatamente como era antes da morte, estará adotando uma postura que não é realista, além de potencialmente prejudicial. Aquelas pessoas que pensam que o objetivo é "resolver" a dor tornam dificultoso o processo de cicatrização. Pessoas enlutadas podem, no entanto, aprender a conciliar a sua dor. Aprendemos a integrar a nova realidade e avançar na vida sem a presença física da pessoa que morreu. Com a reconciliação, surge um sentido renovado de energia e confiança, a capacidade de reconhecer plenamente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar novamente envolvido com as atividades da vida. Nós também viremos a reconhecer que a dor e o sofrimento são difíceis, mas necessárias partes da vida e do viver.
Quando a experiência da reconciliação se desenrola, reconhecemos que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. No início, percebemos isso com a nossa cabeça, e mais tarde vamos percebendo com o nosso coração. Também percebemos que a reconciliação é um processo, não um evento. O sentimento de perda não desaparece completamente, mas as dores intensas do luto tornam-se menos freqüentes. A esperança para uma vida continuada emerge quando somos capazes de fazer compromissos para o futuro, perceber que a pessoa que morreu jamais será esquecida, mas sabendo que a própria vida pode e vai avançar.


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