segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Os Cinco Preceitos



por Frank Ostaseski
Fundador, Instituto Metta 

Há algum tempo criei cinco preceitos para serem nossos companheiros na jornada de acompanhamento dos que estão morrendo. Talvez tenham importância também em outras dimensões da vida e possam oferecer alguma inspiração e orientação. Penso neles como cinco práticas ilimitadas, que podem ser continuamente exploradas e aprofundadas. Não são lineares e não têm valor como teorias nem conceitos. Para que sejam compreendidas e manifestadas precisam ser experimentadas na vida e transmitidas através da ação.

O Primeiro Preceito: Aceite O Que Vier. Não Rejeite Nada.

Aceitando o que vier, não temos que gostar do que está surgindo. Não cabe realmente a nós aprovar ou reprovar. Nossas tarefas são confiar, escutar e prestar atenção cuidadosa às experiências sempre em movimento. Em um nível mais profundo, somos chamados a cultivar uma aceitação destemida.
Esta é uma jornada de descobertas contínuas, na qual estaremos sempre adentrando novos territórios. Não temos qualquer idéia dos seus resultados, e ela requer coragem e flexibilidade. Encontramos um equilíbrio. A jornada é um mistério, que precisamos viver plenamente, abertos, correndo riscos e perdoando continuamente.

O Segundo Preceito: Traga Seu Ser Inteiro Para a Experiência

No processo de curar aos outros e a nós mesmos, tornamo-nos abertos tanto a nossa alegria quanto ao nosso medo. A serviço dessa cura, apoiamo-nos em nossa força e no nosso desamparo, em nossas feridas e na nossa paixão para descobrir um ponto de encontro com o outro. Gentileza profissional não cura nada. O que nos capacita a ser um auxílio real não é nossa capacitação profissional mas sim a exploração do nosso próprio sofrimento. É isso que nos permite tocar a dor de outro ser humano com compaixão em vez de medo e piedade. Temos que convidar tudo para entrar. Não podemos viajar com os outros em um território que não tenhamos explorado por nós mesmos. É a exploração da nossa própria vida interior que nos capacita a construir uma ponte empática com a outra pessoa.

O Terceiro Preceito: Não Espere.

Ser paciente é diferente de esperar. Quando esperamos perdemos o que este momento tem a nos oferecer. Quando ficamos nos preocupando ou criando estratégias acerca do que o futuro nos reserva, perdemos as oportunidades que estão bem diante de nós. Esperando pelo momento da morte, perdemos tantos momentos de vida. Não espere. Se há alguém que você ama, diga a ele ou ela que você os ama. Deixe que a natureza precária desta vida lhe mostre o que é mais importante para você e mergulhe de cabeça.

O Quarto Preceito: Ache um Lugar de Descanso no Meio das Coisas.

Frequentemente, pensamos no descanso como algo que acontecerá quando tudo o mais estiver completo, como quando saímos de férias ou quando terminamos nosso trabalho. Imaginamos que somente poderemos encontrar descanso através da mudança em nossas condições na vida. É possível, entretanto, descobrir o descanso bem no meio do caos. Ele é experimentado quando trazemos nossa atenção plena, sem distração, para este momento, esta atividade. Este lugar de descanso está sempre disponível. Só precisamos nos voltar para ele. É um aspecto de nós mesmos que nunca está doente, não nasce nem morre.

O Quinto Preceito: Cultive a Mente do Não-Saber.

Isto descreve uma mente que é aberta e receptiva. Uma mente que não se limita por agendas, papéis e expectativas. O grande mestre Zen Suzuki Roshi gostava de dizer, “Na mente do principiante há muitas possibilidades, na dos peritos, poucas.”
Desta perspectiva podemos nos dar conta de que “o não saber é o mais íntimo.” Compreendendo isto, mantemo-nos bem próximos à experiência, permitindo que a situação em si mesma oriente nossas ações. Escutamos cuidadosamente nossa própria voz interior, sentindo nossas demandas, confiando em nossa intuição. Aprendemos a olhar com olhos recém-nascidos.

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