quarta-feira, 24 de abril de 2013

2 ANOS DE ASDL/RJ



Dois anos de acolhimento e apoio em situações de perdas, morte e luto
Pela equipe dos “Amigos Solidários na Dor do Luto – RJ”
A dor de perder alguém muito amado é considerada uma das mais impactantes dores que o ser humano pode viver. Nós, do ‘Amigos Solidários na Dor do Luto’, reconhecemos as dificuldades que as pessoas enlutadas atravessam. Enlutar-se pela perda de algo ou de alguém é um processo de intenso. E muito embora a nossa sociedade seja atravessada pelos sinais da morte, das perdas e do luto, todos os dias – as atitudes de negação e de evitação desses temas nos lançam em uma imensa solidão. Ficamos, quase sempre, entregues aos nossos próprios medos, como se evitar falar ou expressar o que sentimos – através dos muitos recursos disponíveis, e não apenas a fala – pudesse nos poupar da dor que a perda nos provoca. Muitas vezes, exige-se pressa, sobretudo em tempos de grande aceleração. A ‘alegria’ é uma ditadura violenta que não dá espaço para a expressão de sentimentos socialmente insuportáveis – como a tristeza, por exemplo. Não dizemos, contudo, que o luto é feito apenas de tristeza e lamento. Ao contrário, o luto é reaprendizado de vida, é possibilidade de lamentar o que foi perdido e, aos poucos, se reconciliar com a perda, construir sentidos para a vida e, lentamente, reaprender a viver.
Em uma única família, cada sujeito enlutado terá uma reação diferente, e não é raro vermos filhos – que também perderam o pai, por exemplo – exigirem que a mãe viúva “volte a ser aquilo que ela sempre foi”. As mais recentes pesquisas científicas sobre o tema, de vários autores consagrados ao redor do mundo, sugerem que cada indivíduo tem um ritmo especial para o seu luto, para a vivência da sua perda – e cada indivíduo precisará de um tempo pessoal e irrepetível para se adaptar a um mundo em que a pessoa amada não está mais presente. Essa é uma tarefa cuja execução vai demandar muitos recursos – internos e externos – para que o luto seja vivido e a pessoa reaprenda a viver.
Nós, os Amigos Solidários na Dor do Luto, acreditamos que podemos viver todas as fases do luto e nos reconciliar com a vida. Até mesmo os lutos que demandarão um acompanhamento mais atencioso podem ser elaborados, podem ser vividos, abrindo espaço para esse reaprendizado. É por esse motivo, tão especial e caro para nós, que comemoramos os dois anos de nossa existência, aqui no Rio de Janeiro. Foram muitas pessoas ajudadas, muitas famílias alcançadas. O nosso trabalho continua justamente porque acreditamos e nos apegamos à crença de que as pessoas podem reaprender a viver no mundo sem a pessoa que morreu.
Assim como o Cruse Bereavement Care, uma instituição inglesa, presidida pelo Dr. Colin Murray Parkes, uma das maiores autoridades mundiais nos temas da saúde mental para perdas, morte e o luto, acreditamos e investimos em um modelo de ajuda comunitária para situações de luto – prevenindo problemas associados ao luto prolongado, oferecendo espaço afetuoso e regular para que haja um clima de confiança necessário às nossas atividades, oportunizando que as pessoas sejam respeitadas em suas dores e nos seus lutos e que possam ter a coragem de suportar a dor da perda, vivê-la e elaborá-la. Nossa abordagem, ainda, não tenta fazer a pessoa enlutada se sentir ótima a todo custo – o que seria colaborar no tamponamento das emoções e impedir a elaboração do luto.
Olhando para trás, são muitas as conquistas. O espaço que conseguimos – que nos permite acolher o público –, a parceria com profissionais da área, o reconhecimento das pessoas que acompanhamos, entre muitas outras coisas importantes e especiais para nós. No entanto, ainda resta muito a fazer. Precisamos continuar na busca por aprimorar o alcance do trabalho, espalhar a ideia para outros estados e buscar manter a mais alta qualidade no acompanhamento de pessoas enlutadas. Nesse sentido, percebemos que a tarefa está quase toda por se fazer. Acompanhe os próximos anos e, se houver algum interesse da sua parte em colaborar conosco, não hesite em entrar em contato e propor alguma parceria, ou simplesmente sugerir mudanças.
Nós estendemos o nosso ‘muito obrigado’ às pessoas que nos dão a honra de cuidar delas. Todos e todas vocês nos possibilitam a grande oportunidade de cooperar para um mundo mais humano, onde a presença da morte não seja tão insuportável, mas que faça parte da vida, que pode e merece ser vivida. Vocês têm nos ensejado a pensar em estratégias de cuidado cada vez mais complexas e mais necessárias para as novas necessidades. Obrigado pela oportunidade de permitir que acompanhemos vocês – com sigilo, respeito e afeto.
Sempre afetuosa e atenciosamente,
Amigos Solidários na Dor do Luto - RJ

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